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Pesquisa da UFPB revela que microcefalia causada por Zika na gravidez gera mais danos


Dados preliminares de pesquisa inédita do Laboratório de Estudos em Envelhecimento e Neurociências (Laben), do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), revelam que a microcefalia causada por infecção pela Zika durante uma gravidez provoca mais danos motores e cognitivos do que aquela cuja causa está relacionada a outros fatores, como substâncias químicas, agentes biológicos infecciosos, bactérias e vírus e até radiação.

“Isso indica que a infecção viral é determinante para uma piora a longo prazo, demandando observação e acompanhamento clínico dessas crianças por mais tempo do que a primeira infância [da gestação ao sexto ano de idade]”, afirma Suellen Andrade, professora adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFPB e integrante da equipe de pesquisadores responsáveis pelo estudo.

Microcefalia é uma má-formação congênita. Os cientistas da UFPB estão realizando a avaliação de crianças por meio de eletroencefalograma, exame que analisa a atividade elétrica cerebral espontânea. Em seguida, haverá a elaboração de protocolos personalizados de eletroestimulação transcraniana por corrente contínua, com base nos dados coletados até então e no uso de tecnologias de modelagem computacional.

Ao todo, 550 crianças com microcefalia associada ou não à infecção por Zika vírus (ZIKV) – 225 em cada um dos dois grupos, além de grupo de controle formado por crianças saudáveis – devem participar da pesquisa. Elas são oriundas de dois centros participantes, envolvendo quatro polos regionais na Paraíba (João Pessoa, Campina Grande, Patos e Souza) e um em São Paulo (Jundiaí).

Iniciado em 2019, o estudo deve ser concluído em 2024. Suellen Andrade conta que a equipe pretende viabilizar ampla compreensão sobre a fisiopatologia da microcefalia Zika vírus congênita, para a elaboração de futuras terapias e fomento de novas pesquisas.

De acordo com a pesquisadora da UFPB, o projeto de pesquisa é formado por blocos principais que consistem na extração e avaliação de DNA e dados clínicos, construção de bibliotecas e bancos de informações, obtenção de sequências e perfil clínico evolutivo e produção científica com perspectivas de novos estudos.

“O projeto faz um acompanhamento longitudinal das crianças com síndrome congênita do Zika vírus (SCZV), pertencentes a duas coortes multicêntricas, vinculadas aos estados da Paraíba e de São Paulo”, explica. Em Estatística, coorte é um conjunto de pessoas que têm em comum um evento que se deu no mesmo período.

“O objetivo principal do estudo é traçar o perfil dos mecanismos inflamatórios, genéticos, imunológicos e relacionados ao neurodesenvolvimento de crianças expostas durante a gestação ao ZIKV e identificar os fatores que possam estar envolvidos com o papel teratogênico desse vírus [influência no desenvolvimento anormal e defeitos de nascimento], por meio de avaliações dos aspectos motores, funcionais, cognitivos-comportamentais, visuais, fonoaudiológicos e relacionados à neuroimagem e eletrofisiologia de todos os participantes”, reforça a pesquisadora.

O projeto é desenvolvido em parceria com docentes da Universidade de São Paulo (USP), da Faculdade de Medicina de Jundiaí, da Universidade Estadual de Campinas e do City College de Nova York. É financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), com um orçamento de R$ 200 mil.

Também integram a equipe de pesquisadores os professores da UFPB Juliana Soares, Marine Rosa, Ânderson Alves, Tatjana Keesen e Cristina Katya Torres, a doutoranda Elidianne Medeiros e os estudantes de graduação Maria Eduarda Queiroz, Larissa Pereira Costa, Sâmela Barbalho e Pedro Brito.

Um guia para o uso de Espectroscopia de infravermelho próximo funcional (fNIRS) em microcefalia associada à infecção congênita pelo Zika vírus foi aceito pela revista inglesa Scientific Reports, jornal científico on-line revisado por pares, publicado pela Nature Research. A aplicação da técnica de monitoramento óptico do cérebro que usa espectroscopia de infravermelho próximo para fins de neuroimagem funcional será disponibilizada em breve.

“Diante das importantes repercussões neurológicas identificadas nessas crianças, emergiu a necessidade de realizar um monitoramento clínico e avaliação a longo prazo, com tecnologias de neuroimagem para identificação de anormalidades relacionadas ao nascimento e desenvolvimento dessas crianças, favorecendo, assim, a elaboração de intervenções terapêuticas que possam promover qualidade de vida às crianças afetadas pelo vírus”, finaliza Suellen Andrade.

O Laben fica localizado no prédio dos Programas de Pós-graduação em Educação Física e Fisioterapia da UFPB, no campus I, em João Pessoa.





Da Redação
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